//Kaleena

Kaleena se perguntava qual motivo havia levado-a aquele lugar. Se era apenas o tédio que lhe consumia nas madrugadas de insônia, ou a curiosidade que insistia em atormenta-la cada vez que o nome "Belcourt" preenchia seus pensamentos. Ela enrolou uma mecha escura nos dedos e respirou fundo, enquanto esgueirava-se pelas paredes em direção a biblioteca vazia. Sabia que se fosse pela por ali, naquele horário, levaria muito mais do que uma simples advertência, mas não se importava caso aquilo significasse a resposta de muitas das suas perguntas. - Você consegue Kali. - Sussurrou para si mesma enquanto empurrava a pesada porta de madeira, apenas o suficiente para que desse passagem ao seu corpo pequeno e magro. Nessas horas ela agradecia por seu porte pequeno e delicadeza. Kaleena também sabia que conseguiria muito mais respostas se procurasse em um computador, mas precisava se lembrar sempre de que aquele lugar não permitia objetos eletrônicos, o que retardava sua busca, limitando-a aos antigos livros do acerto de Hogwarts.

Belcourt era um nome bonito e elegante, o que levava-a a achar que se tratava de uma família antiga e tradicional, eliminando de vez todas as suspeitas que tinha sobre vir de uma família humilde e sem condições. Mordendo o lábio inferior, passou os dedos pelas lombadas dos livros antigos, sem saber ao certo qual escolheria, visto que eram separados por países. Belcourt não se parecia como um nome norueguês, entretanto soava leve e delicado, como os nomes das famílias francesas. Dessa forma ema agarrou um pesado livro rosado, com arabescos espalhados por toda a capa. Aguentando o peso do objeto pesado em uma mão só, ela puxou uma das poltronas para mais perto de si, jogando seu corpo sobre a mobília da biblioteca.

Assim que se sentiu confortável o suficiente com o estofado, procurou pela letra B no índice que comportava todos os sobrenomes contidos naquele livro. - Página cento e trinta e cinco. - Gravou em sua mente, procurando entre as folhas envelhecidas aquela que lhe daria algumas respostas. Não demorou a achar, deparando-se com um brasão elegante e uma descrição breve sobre o que significava, a qual Kaleena mal teve tempo de ler. Um ponto luminoso alcançou sua vista, chamando sua atenção para a figura masculina que se aproximava. Mordeu o lábio inferior, fechando os olhos enquanto, com todo dó que existia em seu coração, arrancou a página referente a família e enfiou no bolso de sua calça, sem se importar se amassaria o objeto delicado.

Só percebeu que mal respirava quando enfim respirou fundo, vendo que não se tratava de um funcionário ou monitor, mas sim de Henry. Aprendera com o tempo que perguntas exigiam respostas, de forma que se perguntasse o que o sonserino fazia ali, seria ela quem teria que responder o motivo de estar perambulando pelo castelo na madrugada. Dessa forma ela apenas sorriu, exibindo as bochechas coradas e cobertas por diversas sardas. Seu estômago então ficou inquieto, causando a familiar sensação de desconforto que sempre sentia quando Henry se aproximava, embora nunca imaginasse um dia admitir aquilo para o garoto. De qualquer forma ela sorriu, empurrando o livro para baixo de uma almofada grande. Se conheciam a tempo o suficiente para saberem até mesmo seus medos mais profundos, mas nem isso dava a Kaleena a sensação de que poderia confiar a ele a história sobre seu passado, considerando que nem mesmo ela o conhecia.